Insinuações-muitas, Notícias-zero, em Sintra

Recuso o “jornalismo” manipulador dos factos, como o sensacionalista, como recuso o “jornalismo” de insinuações que visa o ataque pessoal. Para mim não é notícia o património do actual presidente da Câmara de Sintra. É uma insinuação que, ao contrário do que alguns pensam, torna o visado em vítima. Como não é notícia um pretenso projeto nas redes sociais contra a actual gestão na autarquia sintrense. Se há conhecimento de factos e se não querem brincar ao jornalismo, ou pior, enlamear o jornalismo, que a investigação preceda a publicação e que a notícia esteja limpa de opinião.

foto site Vida em Equilíbrio

Na nova página do facebook  Portugal Alerta, da responsabilidade de Carlos Narciso, apoiante declarado da candidatura do independente Marco Almeida, foi postado um texto sobre o património do actual presidente da Câmara, assim como dos juros que aufere anualmente com as suas contas bancárias. O texto, marcadamente opinativo, contém uma descrição sobre os cargos que o fundador do CDS ocupou, mesmo antes do 25 de Abril, das constantes derrotas políticas eleitorais, mas essencialmente centra-se no património de Basílio Horta(BH), com a argumentação de que não seriam esses cargos, pagos sempre pelo erário público, que lhe permitiriam amealhar tais valores. Isto para mim não é notícia, são insinuações. A notícia devia partir de factos investigados e provados.

O Sintra Notícias, que insiste em camuflar o seu alinhamento editorial com o PS sintrense como se os leitores fossem acéfalos, entra pela tentativa do descrédito ao referir o jornalista Carlos Narciso como ex-jornalista. Depois, ocupa grande parte do artigo, onde mais uma vez se mistura informação com opinião, com a indignação de BH perante a “notícia” do Portugal Alerta e lança a insinuação de uma cabala online: o Portugal Alerta faz parte de um projecto nas redes sociais, contra a actual gestão do PS/Basílio Horta.

Com “jornalismo” como este, só resta aos eleitores sintrenses que desejem estar informados, a diversificação das fontes e o cruzar dessa mesma diversificação para encontrar “o caminho das pedras”. Pelo lado das candidaturas, se estas pensam que se se colarem a estes exemplos de mau-jornalismo e/ou partilharem estas “notícias” saem favorecidas, estão redondamente enganadas. Só é convencido quem já está convencido. A grande maioria dos indecisos, só ilusoriamente será seduzida, sendo que, o voltar as costas às candidaturas que se colem a estas manipulações disfarçadas de jornalismo, pode ser uma das opções, ou então um contributo para o reforço da abstenção.

 

João de Mello Alvim

foto site Vida em Equilíbrio

A orfandade do centro-esquerda nas próximas autárquicas, em Sintra

No alinhamento das actuais candidaturas às autárquicas de Sintra, mesmo tendo em conta que são eleições locais, o factor decisório centrar-se-á na disputa dos habituais eleitores do centro-esquerda. Se à esquerda, à direita e ao centro-direita, há opções claras, uma grande franja de cidadãos, por convicções ideológicas, não se revê no panorama, podendo o “partido da abstenção”, para além de ser grande vencedor, juntamente com o chamado voto útil, influenciar o resultado final.

Fazer uma extrapolação dos resultados das últimas eleições legislativas no concelho(1), para as próximas autárquicas, é um erro político básico, agravado em Sintra pela existência de um Movimento, o dos Sintrenses com Marco Almeida(MSCM), onde o sentido de voto dos seus apoiantes, não foi canalizado para um só partido ou área ideológica, uns por convicção, outros ainda sob os efeitos do cisma no PSD/Sintra. O mesmo acontece com a miragem de que o efeito “geringonça” reverterá a favor do PS, e que pretende branquear que o actual Executivo é suportado por uma troika espúria em que entra o PSD-indefectível de Passos Coelho. Concorre ainda para limpar a miragem, o actual núcleo duro que dirige a Concelhia do PS que é conhecido por “arrebenta candidatos socialistas” (João Soares e Ana Gomes), e last but not the least, o percurso político do cabeça de lista, Basílio Horta, que foi essencialmente como militante da extrema-direita de onde herdou os tiques autoritários e a difícil convivência com as regras democráticas.

Esclarecidas estas questões, uma outra, e essencial, se coloca. Em que candidatura se reverão os eleitores do centro-esquerda? Suprimidas as hipóteses Bloco de Esquerda e CDU por se assumirem inequivocamente de esquerda, e a do PS por se apresentar travestida, a candidatura do independente Marco Almeida conseguirá atraí-los? Seria mais fácil dar crédito a esta hipótese se a referida candidatura conseguisse fazer um caminho mais transversal ideologicamente, e fosse para além do movimento do ex-militante do PS, Barbosa de Oliveira. Seria mais fácil a entrada na área do eleitorado do centro-esquerda, se, pelo menos um dos nomes chave da candidatura (cabeça para a Assembleia Municipal e Mandatário), fosse de gente de esquerda. Assim, um trabalho de formiga feito ao longo de quatro anos por parte dos aderentes do MSCM, onde há gente de várias ideologias, pode ser ofuscado por nomes de destaque na candidatura e conotados com a direita e o centro-direita. Além do mais, são dados de mão-beijada argumentos aos que dizem que a candidatura independente não o é tanto assim, pois teria sido negociada, e estará a ser condicionada por pactos com o PSD/CDS onde, do lado do MSCM, só Marco Almeida participa.

Pelo lado do PS/Basílio Horta, a situação não é a mais atraente para o habitual eleitor do centro-esquerda. Em vez da almejada mais-valia, o actual Presidente tem-se revelado um bico-de-obra, pelo falhanço nas negociações com a sua família política para condicionar o lançamento da candidatura de Marco Almeida, pela falta de empatia com os cidadãos, pelo desconhecimento da realidade concelhia, pelas entradas de leão e saídas de sendeiro, e pela mediocridade como decisor político. Por este resumo, em vez de alargar a base eleitoral ao centro e à esquerda, afunilou-a, por desgaste, em “pensamentos, palavras, obras e omissões”. Mesmo com a descarga de obras e projectos, que aqui mesmo previ e estão a inundar, e a entupir os órgãos de comunicação oficiais e oficiosos, dificilmente conseguirá inverter o caminho de desconfiança que provocou, mesmo no próprio núcleo duro da Concelhia onde a convivência conheceu melhores dias.

Concluindo, uma certeza, uma incerteza, e uma pergunta-reflexão que deixo aos leitores e poderá ser o mote provável para próximo artigo. A primeira está na actual orfandade do “centro-esquerda”, a segunda no desfecho das eleições autárquicas em Sintra, a terceira e última: se este quadro de orfandade não for alterado, para onde penderá o voto útil?

 

 

João de Mello Alvim

imagem ideiademarketing.com.br

 

 

O panorama desolador da comunicação social, em Sintra

 

 

Longe vai o tempo em que existia em Sintra comunicação social informativa e interveniente, em quantidade e variedade, embora nem sempre em qualidade com raras e notórias excepções. De há uns anos a esta parte a quantidade caiu vertiginosamente, a variedade afunilou e a qualidade deixa muito a desejar, mesmo com o aparecimento de novas tecnologias de difusão. A ligação às forças partidárias, é um factor que se mantem inalterado, salvo raros desvios a esta regra.

Que jornais, sites, rádios e Tv´s se podem ver/ler/ouvir em Sintra que reflictam a realidade social e política do concelho? Com o risco de cometer alguma injustiça, o panorama é desolador, os jornais mais parecem folhetos de anúncios de um qualquer supermercado, salpicados por notícias na maioria das vezes não editadas e sem obedecer a uma unidade no seu conjunto. Resiste o “Jornal de Sintra”, com dois ou três colaboradores que não se pode deixar de ler, mas, e com todo o respeito pessoal pela sua directora, sem um rumo, sem inovação. De assinalar, no entanto, a resistência às vicissitudes que toda a imprensa passa e a independência partidária. Com outras características editoriais por ser “um jornal metropolitano (…) com edições semanais ou quinzenais, distintas em vários concelhos”, está o Jornal da Região-Sintra(JR-S). Mais criterioso na selecção e tratamento das notícias, tentando que a opinião não contamine a informação, e trilhando um rumo que não será especulativo imaginar de constante tensão entre a administração e a redação, o JR-S é o melhor exemplo de jornalismo independente que se faz em Sintra, sendo que o director, Paulo Parracho, nunca escondeu a sua filiação partidária(PSD) e inclusive foi eleito pelo seu partido para um órgão autárquico. Por outro lado, a rádio que existe é essencialmente de entretenimento e amolecimento. Restam as publicações online e uma televisão local, suponho que a única, depois da paragem da “Alagamares TV”.

Destas é justo salientar o infatigável trabalho de recolha do site “Tudo sobre Sintra”, uma incontornável fonte de consulta onde a imparcialidade é evidente, a “Saloia TV” e o “Sintra Notícias”. Ora estes dois últimos exemplos são paradigmáticos da forma como se situam perante as forças partidárias. Se no primeiro, goste-se ou não do estilo – e eu não gosto -, é assumida a defesa de uma candidatura, a do independente Marco Almeida, o segundo, para além de ser uma espécie de cópia do site da Câmara, é um defensor encapotado da estratégia política do PS/Sintra e do seu candidato, violando o que está escrito no seu estatuto editorial: “(…) O SINTRA NOTÍCIAS rege-se por critérios de rigor e imparcialidade no tratamento da matéria informativa; O SINTRA NOTÍCIAS assume a sua independência institucional, ideológica, política e económica na selecção e tratamento dos conteúdos informativos que disponibiliza aos seus utilizadores”.

Chega a ser confrangedora a forma, parcial, como são tratados os conteúdos editoriais. Não seria mais profissional e menos ridículo aos olhos dos leitores, que não são só os alinhados com a actual direcção da Concelhia do PS, assumir publicamente a defesa da estratégia do PS/Sintra e a manipulação das informações relativas à candidatura de Marco Almeida a quem, invariavelmente chamam candidatura da coligação PSD/CDS, tentando branquear quase quatro anos de trabalho dos aderentes ao Movimento Sintrenses com Marco Almeida? Ou o SN parte do princípio de que os leitores são acéfalos e meia-dúzia de partilhas de uma notícia no facebook são sinal de sucesso informativo?

 

João de Mello Alvim

A (tentativa da) segunda morte da Maria João Fontaínhas, em Sintra

O relançamento do Prémio Nacional das Artes do Espectáculo, Maria João Fontaínhas (PNAEMJF), continua adiado a pretexto das mais variadas e descosidas razões, que pretendem esconder a razão principal. A iniciativa, bienal, tinha como objectivo dinamizar a escrita dramática e ainda guiões para a montagem de espectáculos na área das artes performativas. O adiamento consecutivo, para além de ser uma espécie de tentativa de segunda morte da actriz do Chão de Oliva, precocemente falecida, é paradigmático da actual política cultural dos “três cês”, imposta pela dupla ainda em funções, Basílio Horta/Rui Pereira(1).

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Há uns meses, escrevia neste mesmo espaço: “A decisão de congelar o PNAEMJF consubstancia a orientação política para a cultura da actual dupla Basílio Horta/Rui Pereira,  assente nos “três cês”: cortar ao máximo os apoios à actividade cultural, essencialmente à desenvolvida pelos agentes culturais. Esta prática rejeita Regulamentos (que possam imprimir transparência), previamente discutidos pela comunidade e aprovados por quem tem a decisão política, como foi prometido durante a campanha eleitoral, e deixa campo aberto ao livre arbítrio, ao controlo pelo “gosto artístico do vereador” e, eventualmente, às suas simpatias pessoais. É que, se para Basílio Horta a Maria João não lhe diz nada, como não lhe diz nada a história e a variada actividade cultural sintrense, já Rui Pereira, é praticamente da mesma geração da Maria João e, quem a conhecia, sabe que não era mulher para reverências aos transitórios do Poder. Será que a Maria João Fontaínhas está a pagar pelo fez ou, pior, pelo que não fez, segundo as bitolas desta “comissão liquidatária”?( 1).

O artigo tinha sido escrito na sequência de uma sugestão apresentada por um membro( do PSD) na Assembleia da União de Freguesias de Sintra, no sentido do Executivo da União pensar na possibilidade de chamar a si o relançamento do Prémio. Sugestão bem acolhida por todas as representações, à excepção da do PS que se manteve em silêncio, em obediência ao chefe, o Presidente da Concelhia, Rui Pereira. Eventualmente recados e avisos, embrulhados nas habituais mentiras, foram enviados. O facto é que, a caminho do final do mandato, o PNAEMJF continua bloqueado(2).

Um senhor que foi ministro do PS e posteriormente administrador da empresa Teixeira Duarte, dizia, na sua habitual verborreia que, “quem se mete com o PS leva!”.  Em Sintra, o núcleo duro deste partido, com a cumplicidade silenciosa de muitos militantes, a frase deste “intelectual” de uma das alas mais trauliteiras da direita do PS, faz escola. Como tal, se for preciso que a Maria João Fontaínhas “morra uma segunda vez”, pois que morra. Quem a mandou ser irreverente, expressar as suas discordâncias, fosse ele Vereador ou Chefe de Departamento, e pertencer à associação cultural que, pela sua independência, esteve sempre sob-mira? Um pequeno detalhe: daqui a uns anos, ninguém se lembrará do nome do actual Presidente da Concelhia do PS. O contrário não acontecerá com a Maria João Fontaínhas que, pelo seu trabalho na comunidade, em particular na área cultural, será lembrada como a primeira actriz formada em Sintra e que em Sintra desenvolveu o seu trabalho, na primeira Companhia de Teatro profissional. O nome dela na futura sala da ampliada Casa de Teatro de Sintra, malgrado a persistente obstrução da dupla Basílio Horta/Rui Pereira, isso mesmo perpetuará.

 

 

João de Mello Alvim  #  blog Três Parágrafos

https://tresparagrafossegundaedicao.wordpress.com

 

 

 

(1)- https://tresparagrafossegundaedicao.wordpress.com/2017/01/08/a-politica-cultural-dos-tres-ces-em-sintra/

 

(2)- Pelas minhas contas, este Prémio o máximo que custou à CMSintra foi 6 000 euros, somando o prémio monetário e pagamento ao elemento convidado para o Júri – os restantes elementos, designados pela autarquia e pelo Chão de Oliva, não eram pagos A última edição(2012), que não teve vencedores, custou zero euros (zero).