Renúncia, malabarismo, lobo bom e lobo mau, em Sintra

A anunciada renúncia ao mandato de secretário da mesa da Assembleia Municipal de Sintra(AMS), por parte de Rui Castelhano (PSD ), não chega a ser surpresa. Pode ser mesmo o prenúncio de uma sequência de outras demissões, ou da eclosão de um qualquer incidente político que coloque em causa “o acordo de coligação”, celebrado por este partido com o PS, para a actual governação de Sintra. A razão principal para a celebração do “acordo” em 2013, visava impedir que o Movimento Sintrenses Com Marco Almeida condicionasse a formação de um Executivo, e reflectia ainda a sequela da (quente) luta fratricida que deu origem à cisão do PSD local, e à sua expressiva derrota, beneficiando a vitória, à tangente, de Basílio Horta – a sua primeira victória em eleições…

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O que há de espantoso na decisão, se o espanto tivesse lugar na política, são as razões invocadas, e que retiro do comunicado enviado por Rui Castelhano à comunicação social: “”(…)o acordo de coligação entre o Partido Socialista e o Partido Social Democrata, celebrado em 2013, para a gestão do órgãos autárquicos municipais, encontra-se esgotado e sem futuro”; “(…) Muitas promessas foram feitas e muito pouco foi feito” (…) neste período, temos vindo a assistir apenas a uma ação política baseada no show-off sem resultados visíveis e sem rumo estratégico (…) que não conseguiu apostar no desenvolvimento de Sintra nem aumentar a qualidade de vida da sua população”. Quase quatro anos depois, ou seja, em final de mandato, é que o militante do PSD que ocupava o cargo – importante, sem desprimor para os outros – de secretário da mesa da AMS, chega a estas conclusões? Quatro anos depois é que vem tomar uma decisão com um argumentário que é praticamente o mesmo do utilizado pela oposição ao Executivo? Naturalmente que o novo quadro de “acordos” políticos tendo em vista as próximas eleições, devia ter pesado nesta decisão.

Esta renúncia, traz à tona um outro argumento já ensaiado pelos defensores da gestão socialista encabeçada pelo democrata-cristão neo-liberal, e fundador do CDS, Basílio Horta: uma eventual victória do independente Marco Almeida, apoiado pelo PSD, virá a dar ânimo à manutenção de Passos Coelho como Presidente do partido. E, lembram, especialmente aos eleitores da esquerda, os anos do governo do ex-primeiro ministro onde a austeridade cega e o desenfreado neo-liberalismo, não só empobreceu o país como massacrou e retirou a esperança de futuro a velhos e novos. Mas, esclareçamos, o “acordo de coligação” PS/PSD assinado em Sintra não foi feito com a autorização do mesmo Passos Coelho, quando este era primeiro-ministro? Por outras palavras, se o PS, para governar, tiver de se aliar ao PSD de Passos Coelho, o eleitorado de esquerda pode estar descansado – será a versão, PSD lobo/bom. Se o PSD apoiar o independente Marco Almeida, este deixa de ser independente, passa a ser o candidato do PSD e a ameaça do regresso do “pafismo” está garantida – será a versão, PSD lobo/mau. Tudo isto, facilmente desmontável, esconde duas questões. A primeira é que o PS, com Basílio Horta à cabeça, dá cada vez mais sinais (externos, porque os internos ainda se vão conseguindo abafar), de não acreditar na victória por mais obra que despeje sobre os eleitores – e estão para sair grandes anúncios. A segunda, apoiada num atabalhoado malabarismo, pretende menorizar a memória e a consciência cívica dos eleitores, ao tentar confundi-los sobre o âmbito das próximas eleições, que são autárquicas e não legislativas.

 

João de Mello Alvim

A mania da perseguição na política, em Sintra

O “Três Parágrafos” de hoje, não é da minha autoria. Encontrei-o no blogue Ataques de Pânico, e é assinado por Marta Reis. Penso que pode ser útil como reflexão, atendendo ao que se ouve, e lê, sobre a actual situação política em Sintra.

João de Mello Alvim

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“Mania” da perseguição

 

“Quando falamos em ”mania da perseguição” muitas vezes não é propiamente uma perseguição física, mas sim uma desconfiança em relação a tudo o que rodeia a pessoa.

Em termos psiquiátricos diz-se que as pessoas que sofrem desta perturbação têm uma Personalidade Paranóide. Este transtorno da personalidade pode ter vários graus, afetando a vida pessoal e profissional das pessoas mais ou menos consoante a gravidade. A principal característica das pessoas que sofrem deste transtorno é a suspeição e desconfiança em relação aos outros.  Normalmente estas pessoas sentem muito medo de serem humilhadas ou gozadas, então estão sempre alerta para o que se passa ao seu redor.

Algumas das caraterísticas que se podem observar em quem tem uma Personalidade Paranóide são: Desconfiança em relação a toda a gente (amigos, familiares, colegas de trabalho), pensando que todos têm intenções negativas no que fazem;(…) Humilhação constante, partindo do pressuposto que as ouras pessoas estão frequentemente a falar mal nas suas costas; (…)

Esta perturbação pode ter origem na infância da pessoa, devido a acontecimentos traumatizantes ou da necessidade precoce de lidar com situações hostis. A vida pessoal e profissional pode ser muito afetada por esta perturbação e por isso é necessário procurar tratamento o mais rapidamente possível. O diagnóstico por vezes é difícil pois esta perturbação pode surgir associada a outras patologias como a agorafobia, transtorno obsessivo-compulsivo ou mesmo esquizofrenia. Além de recorrer ao psiquiatra, o tratamento passa por diversas sessões de psicoterapia, de forma a moldar este traço específico da personalidade da pessoa, evitando que prejudique a sua vida”.

 

Marta Reis

blogue Ataques de Pânico

Artigo completo  https://ataquespanico.pt/mania-da-perseguicao/

Mais uma derrota política da recandidatura de Basílio Horta?

Tudo leva a crer que se concretizou mais uma derrota política para Basílio Horta e que o desespero vai, cada vez mais, minando os promotores da sua (re)candidatura à Câmara de Sintra. Depois de trazer uma mão cheia de nada das conversas-com-ementa, com representantes, ao mais alto nível da sua área ideológica (PSD e CDS), no sentido de esvaziar a candidatura do independente Marco Almeida. Depois de ter tido o mesmo resultado com as aproximações feitas, posteriormente, à esquerda, o actual Presidente voltou-se novamente para o CDS, mas agora a nível local. A estratégia foi delineada numa lógica de aproveitamento das divergências entre os dois partidos da direita para encontrar um candidato único para Lisboa, e ainda  na exploração de mágoas antigas do CDS/Sintra em relação ao seu parceiro de coligação em 2103.

mais-uma-derrota-2-fotomontagem-de-jorge-lima(Fotomontagem de Jorge Lima)

Se a nível nacional a coligação PSD/CDS sustentava o governo de Passos Coelho, de triste memória, em Sintra a relação entre estes dois partidos desde as últimas eleições autárquicas, percorreu/percorre uma rota diferente e, por vezes, crispada. Na génese, depois da renúncia de Pedro Pinto, a preterição do elemento do CDS, que estava em terceiro lugar, – e como tal, subiria a segundo -, pelo quarto nome da lista, a actual vereadora Paula Neves(PSD). Este salto no alinhamento dos nomes nas listas concorrentes à vereação, provocou inclusive a separação das representações partidárias na Assembleia Municipal. Entretanto, em Lisboa, a anunciada novela do antes e do depois da apresentação da candidatura de Assunção Cristas, criou fricções entre os dois partidos, que se repercutiram em Sintra. Ora é na exacerbação e injunção destes dois factos, que Basílio Horta(BH) tenta abrir uma desesperada janela de oportunidade, já que foi co-fundador do CDS e tem a vantagem de, estando no Poder, ter acesso a um cardápio de oferta(s) aliciante.

No entanto, e mais uma vez, a estratégia desmoronou-se. A postura que a Direcção Nacional dos “democratas-cristãos” tem mantido em relação a Sintra – de distanciamento aparente, porque não lhe interessa que o CDS concorra em pista própria, pois os resultados podem ser humilhantes -, assim como a aproximação de Marco Almeida a Ribeiro Castro, militante do CDS que, na gíria popular, “nunca virou a casaca” ( e são públicas as suas divergências com muitas das orientações do partido ), têm travado a manobra, prenunciam mais uma derrota política de BH e acentuam o desespero nos seus apoiantes que duvidam, mas “nem às paredes confessam”, do resultado de Basílio Horta contra os adversários agora unidos. No jogo de forças, igualmente entram outros factores, como as boas relações entre as Juventudes dos dois partidos, e a indignação de uma minoria de socialistas que não consideram a ideologia como um adereço, nem a acções dos partidos meramente instrumentais – ao contrário da actual Direcção Concelhia e de alguns “íntegros” que, de opositores à indicação de BH, progressivamente, se têm tornando, nos mais radicais defensores do actual Presidente e da sua estratégia política, mais assente na cegueira da soberba (que tem dividido) do que na humildade da sabedoria (que tem unido).

Os perigos do novo modelo de gestão dos Parques Naturais

A intenção anunciada pelo governo em alterar o modelo de gestão dos Parques Naturais, não deixa de ser preocupante pelo modelo que pretende implementar. Se o actual, com os seus labirintos decisórios kafkianos não é o mais ajustado, o (por agora) experimental, pode conduzir à promiscuidade política/construção desenfreada e ao reforço da pressão do lucro (imediato),por parte de alguns, em detrimento do bem comum das populações, reflectido na singularidade dos territórios que devem ser cuidados e preservados(o lucro a longo prazo).

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Segundo o Ministro do Ambiente*,vão “continuar a existir diretores regionais do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas(ICNF), mas haverá uma direção em cada parque natural que será presidida por um autarca, com a responsabilidade de olhar aquele território como um ativo que deve ser promovido e o ICNF manterá as funções de preservação da natureza”. E à pergunta de como será possível “garantir isso se ao longo de anos os autarcas agiram como inimigos das áreas protegidas?”, o ministro, candidamente(?), responde que a situação se inverteu e que não tem a menor dúvida “que os autarcas olham para estes espaços como diferenciadores em relação aos territórios vizinhos”. Nem de propósito, e sobre a “reversão dos autarcas” invocada pelo ministro, a edição de hoje do “Público”, titula:  “Câmara de Vila Real de Sto António vende terreno para hotel em cima da praia de Monte Gordo. Colado à praia de Monte Gordo, vai surgir um hotel numa zona que estava destinada ao desporto e lazer. Na faixa do lado nascente, mais dois empreendimentos turísticos estão previstos”. Segundo a alegação da providência cautelar avançada pelos moradores, “em causa (..) estará a violação do Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC) Vilamoura-Vila Real de Stº António. Neste documento, afirmam, o que se preconiza é a “requalificação do passeio marginal, não a construção de mais prédios”.

É por demais conhecido, e, infelizmente, visível nos atentados urbanísticos cometidos, que muitos autarcas – como outros agentes políticos – não têm formação nem sensibilidade para entenderem e, como tal, gerirem um património paisagístico diferenciador, e que a alegada vantagem da proximidade, facilmente se transforma em cumplicidade com o regabofe da construção. Olham para as geografias como “um activo” para os cofres bancários, digo, camarários. O lucro só é entendido se for imediato e em milhões, já que é incompreensível se for a longo prazo e se reflectir na preservação inteligente da natureza, o que, para além do lucro imaterial, acabará por dar lucro financeiro, precisamente porque é diferente, e resistiu aos interesses predadores da “indústria do turismo”.

Se o actual sistema que regulamenta os Parques não é adequado, que seja mudado, especialmente no que respeita à sua operacionalidade. Que as autarquias estejam representadas, mas que as decisões finais sejam de um organismo nacional que coloque a preservação (ou seja, o futuro), à frente da potencialidade do “activo”(ou seja, do imediato, “da obra”, para ser elencada nas campanhas eleitorais).

 

João de Mello Alvim

 

*Expresso, 4 de Fevereiro 2017