Uma entrevista que baralha (mais)o resultado das autárquicas, em Sintra

 

A entrevista de Marco Almeida à TVI em nada contribui para convencer os ainda não convencidos em quem votar nas próximas autárquicas, que é onde os partidos e coligações se devem concentrar. Tenso e paralisado perante uma entrevistadora que confunde jornalismo com circo romano, o candidato não só não foi claro na exposição do caminho que pensa seguir se for eleito, tropeçou várias vezes e deu razão a quem diz ser esta candidatura não só é apoiada, como foi previamente combinada com o PSD.

Pelas suas caraterísticas pessoais, compreende-se à partida as dificuldades que Marco Almeida teria frente de uma entrevistadora-que-faz-directos-com-cadáveres-de-pessoas-ao-fundo, e pensa que anos de jornalismo lhe dão aforia para que o seu guião, impeça os entrevistados de expor os seus argumentos. Mais uma razão para o inner circle de Marco Almeida ter tido redobrado cuidado com a preparação deste embate e de outros que não sejam com a Saloia TV – isto sem qualquer menosprezo para com esta, mas numa relação de escala. A tensão do candidato, uma postura educada, confundiu-se com o reverente e obrigado e afiou as garras da dita entrevistadora. Contribui para erros e imprecisões (passivo da autarquia, número de salas de aulas, valores do IMI, entre outros), que nenhum candidato pode dar, e que as oposições aproveitaram para explorar. No fim da entrevista a ideia com se fica é que Marco Almeida não conseguiu expor o seu programa e o caminho que pensa seguir, se vier a ser vencedor. Ao aguilhão da star que o entrevistava, ia reagindo, mas nunca conseguiu agir.

Mas o mais preocupante para quem não é do PSD (nem do CDS) mas apoia a candidatura do independente, ou está inclinado em apoiá-la, mas não esquece os tempos negros do “ir além da troyka”, foi o enfâse colocado na confirmação do apoio de Passos Coelho. Primeiro, e embora se trate de eleição local, porque afasta em vez de congregar apoios de eleitores não filiados nestes dois partidos de direita, e que têm memória da governação passista (em coligação com o CDS). Depois, ao confirmar, da forma como o fez, como se estivesse a apresentar um trunfo, Marco Almeida deu de mão-beijada um trunfo aos que, dentro e fora do PSD, dizem que a candidatura há muito que vinha a ser negociada no segredo dos bastidores, com o empenho garantido deste partido. Versão contrária à que circula no circuito interno, junto de militantes e apoiantes do Movimento Sintrenses com Marco Almeida, e difundida e defendida publicamente. É caso para dizer que à mulher de César não basta ser séria, tem de parecer. E em televisão, o sentido desta frase é implacável.

 

João de Mello Alvim