A quem serve a notícia que liga as sondagens à recandidatura de Basílio Horta, em Sintra?

A nota publicada na última edição da revista “Sábado” (1), é um dos sintomas da desarmonia nas hostes socialistas em Sintra e a nível nacional, quanto à recandidatura de Basílio Horta. Como há meses assinalei, o actual Presidente nunca congregou o entusiasmo de muitos militantes que não colocaram o socialista na gaveta e que sempre se opuseram à sua indigitação. A estes, juntaram-se outros, descontentes com a governação autocrática, ao longo deste mandato, que teve como eixo central mais a acumulação de milhões no sistema bancário, e menos a resolução dos problemas das pessoas. Ultimamente, e na elaboração das listas, Basílio Horta “comprou” mais uma guerra, agora com os seus mais ferrenhos apoiantes.

recandidatura_sondagens

Neste caldo de conflitualidade e de jogo de forças que tem conhecido situações de grande tensão, ameaças e amuos, não é preciso ser pitonisa para não rejeitar a hipótese da notícia da “Sábado”, ter sido “plantada”. E, ao contrário de leituras apressadas que foram feitas, não pelos opositores à recandidatura, mas pelo sector “socialista” que apoiou a candidatura em 2013, o sector “socialista” que tem dominado nos últimos anos a concelhia, e que minou as candidaturas de João Soares e Ana Gomes. Ora o aparente paradoxo desta jogada, tipo “House of Cards” saloio, deriva não de garantias que o fundador do CDS(2) exige para se recandidatar, mas de uma vendetta do núcleo duro dos apoiantes de 2013, face à ordenação dos nomes da lista concorrente ao Executivo camarário.

O cruzamento de informações que circulam, mais ou menos, discretamente, indicam que Rui Pereira, e os seus indefectíveis, não se conformam por terem perdido o segundo lugar na lista, em detrimento, ao que parece, de Domingos Quintas. É que, mesmo que ganhe as eleições, Basílio Horta(BH) não cumprirá integralmente o mandato e aberta ficará “a janela de oportunidade” para Rui Pereira, finalmente, chegar à Presidência da Câmara de Sintra sem ter de disputar eleições – que ele sabe que nunca ganharia. Assim, mesmo que seja verdade o conteúdo da nota da revista “Sábado”, atendendo à reconhecida dificuldade de BH em conviver com as regras democráticas, e estar a criar um impasse para subir a parada negocial com o PS, nunca lhe interessaria a divulgação da mesma, por contribuir para desacreditar, ainda mais, a sua imagem de político em que a arrogância é inversamente proporcional à competência. Ficam então de pé as hipóteses de a “plantação” ter sido feita pelo Movimento Sintrenses com Marco Almeida e partidos que o apoiam, ou então ter vindo de “dentro” do PS. Diante destas duas possibilidades, uma leitura impressionista conduziria às forças do candidato independente. E foi apostando neste raciocínio do leitor/eleitor, que a manobra de diversão foi desenhada.

Numa primeira fase, será fácil soprar as suspeitas na direcção do adversário político, mas com o tempo, as inevitáveis fugas de informação e, essencialmente com a divulgação da lista, a claro ficará “a mão que embalou o berço”, provocou estragos na recandidatura de BH e inevitavelmente, deu mais dividendos à candidatura de Marco Almeida. Embora comparado com a ficção(?) da série “House of Cards”, a vida política em Sintra seja uma espécie de Lagoa Azul de tranquilidade, e comparado com Francis Underwood, Rui Pereira não passe de aspirante a menino do coro, é caso para dizer que esta gente não brinca-em-serviço e não perdoa.

 

 

João de Mello Alvim

 

 

(1)-Na mesma, escrevia-se que o autarca só se recandidatava se “houver sondagens que lhe apontem uma vitória inequívoca”.

 

(2)-Uma das razões da demora da divulgação da recandidatura, tem a ver com as negociação de Basílio Horta com o PS nacional tendo em vista uma promoção política, não num cargo que exija competência política democrática – que já provou não ter – , mas dentro do cardápio de sinecuras que o PS lhe poderá oferecer, no chamado “chuto para cima”.

 

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